16 de maio de 2012

Fora do Armário




Por Maria Fernanda Seixas e Rafael Campos para a Revista do Correio 


Liberdade, liberdade... Jovens contam o quão difícil e necessária é a decisão de revelar para a família a homossexualidade. Sair do armário, porém, é uma atitude libertadora. Hoje, os pais também encontram apoio para aceitar a escolha do filho 


A história se repete todos os dias, com personagens diferentes. O garoto era um bom aluno, tirava boas notas e entrou para a faculdade. Sempre foi um filho carinhoso e prestativo, mesmo que na adolescência tenha parecido um tanto tímido e fechado com os familiares. Cheio de saúde e muito bem educado, recebeu todo tipo de estímulos culturais e afetivos dentro de casa. Até que um dia assumiu para os pais que é homossexual. E todas as virtudes desapareceram por um momento: “Onde foi que nós erramos?” Para a psicóloga Edith Modesto, que viveu essa exata situação 20 anos atrás, quando o filho caçula se assumiu gay, a sensação foi de revolta — consigo mesma, com Deus, com o destino. “Questionava o tempo inteiro por que eu? Por que meu filho? Parecia um castigo.”

Toda história, porém, tem dois lados. O(a) garoto(a) amava os pais, mas vive um constante conflito interno. Sente-se diferente desde criança e isso lhe trazia uma sensação de isolamento. Aos poucos, percebe que sua orientação sexual é diferente da esperada pela sociedade e pela família. E, a partir desse dia, começa sua guerra privada de autoaceitação. Aceitar quem é, que sua escolha não era uma opção e que, inevitavelmente, traz sofrimento para quem ama. Isso até tomar coragem de se assumir para a família. “O que será da minha vida agora?” Foi assim com o relações públicas Gustavo Freitas, 23 anos. Todas as noites, remoía o momento em que contaria para a família sobre sua orientação sexual. Foram madrugadas insones, permeadas por dilacerantes pensamentos de medo e angústia. Numa discussão, ele finalmente revelou seu segredo. Passado o turbilhão de questionamentos — mais especificamente quatro longos anos —, mãe e filho, hoje, trocam confidências sobre seus relacionamentos com bom humor.

Ao mesmo tempo em que o ato de “sair do armário” parece uma atitude de libertação, de abraçar uma nova vida livre de mentiras, significa também ter que lidar com a aceitação do outro. De saber que, ao menos por uma fase, ser homossexual parecerá maior do que ser todas as outras coisas: profissional, honesto, responsável. Não há momento certo. Hoje, jovens recém-egressos da infância já têm coragem de declarar a preferência sexual. Mas ainda há uma grande quantidade deles que imagina uma vida eternamente presa em uma gaiola. Os que se libertam, porém, garantem que nenhuma dificuldade supera o prazer de ser verdadeiro consigo e com os outros. E são essas as histórias que a Revista conta hoje.

Via internet

Sentado de frente a um computador, o relações públicas Júlio Cardia (foto), 28 anos, recebeu por e-mail um convite para integrar a rede social Orkut. Abriu a página e começou a preencher os espaços em branco requeridos para sua inscrição no site. Carregou uma foto sua, colocou nome, idade, cidade onde morava. Na vez da pergunta “opção sexual”, Júlio sentiu um calor no rosto. Sem titubear, disse pela primeira vez ao mundo que era gay. Mal sua página entrou no ar e os amigos, chocados com a revelação virtual, começaram a ligar. Nada foi planejado. Mas, naquele momento, olhando para a tela do computador, Júlio optou por não mentir mais. Sua vida mudou a partir dali.

8 de maio de 2012

Por Dr. Dráuzio Varella para a Agência LGBT Brasil




A homossexualidade é uma ilha cercada de ignorância por todos os lados. Nesse sentido, não existe aspecto do comportamento humano que se lhe compare.

Não há descrição de civilização alguma, de qualquer época, que não faça referência à existência de mulheres e homens homossexuais. Apesar dessa constatação, ainda hoje esse tipo de comportamento é chamado de antinatural.

Os que assim o julgam partem do princípio de que a natureza (ou Deus) criou órgãos sexuais para que os seres humanos procriassem; portanto, qualquer relacionamento que não envolva pênis e vagina vai contra ela (ou Ele).

Se partirmos de princípio tão frágil, como justificar a prática de sexo anal entre heterossexuais? E o sexo oral? E o beijo na boca? Deus não teria criado a boca para comer e a língua para articular palavras?

Se a homossexualidade fosse apenas perversão humana, não seria encontrada em outros animais. Desde o início do século 20, no entanto, ela tem sido descrita em grande variedade de espécies de invertebrados e em vertebrados, como répteis, pássaros e mamíferos.

Em virtualmente todas as espécies de pássaros, em alguma fase da vida, ocorrem interações homossexuais que envolvem contato genital, que, pelo menos entre os machos, ocasionalmente terminam em orgasmo e ejaculação.

Comportamento homossexual envolvendo fêmeas e machos foi documentado em pelo menos 71 espécies de mamíferos, incluindo ratos, camundongos, hamsters, cobaias, coelhos, porcos-espinhos, cães, gatos, cabritos, gado, porcos, antílopes, carneiros, macacos e até leões, os reis da selva.

Relacionamento homossexual entre primatas não humanos está fartamente documentado na literatura científica. Já em 1914, Hamilton publicou no Journal of Animal Behaviour um estudo sobre as tendências sexuais em macacos e babuínos, no qual descreveu intercursos com contato vaginal entre as fêmeas e penetração anal entre machos dessas espécies. Em 1917, Kempf relatou observações semelhantes.

Masturbação mútua e penetração anal fazem parte do repertório sexual de todos os primatas não humanos já estudados, inclusive bonobos e chimpanzés, nossos parentes mais próximos.

Considerar contra a natureza as práticas homossexuais da espécie humana é ignorar todo o conhecimento adquirido pelos etologistas em mais de um século de pesquisas rigorosas.

Os que se sentem pessoalmente ofendidos pela simples existência de homossexuais talvez imaginem que eles escolheram pertencer a essa minoria por capricho individual. Quer dizer, num belo dia pensaram: eu poderia ser heterossexual, mas como sou sem vergonha prefiro me relacionar com pessoas do mesmo sexo.

Não sejamos ridículos; quem escolheria a homossexualidade se pudesse ser como a maioria dominante? Se a vida já é dura para os heterossexuais, imagine para os outros.

A sexualidade não admite opções, simplesmente é. Podemos controlar nosso comportamento; o desejo, jamais. O desejo brota da alma humana, indomável como a água que despenca da cachoeira.

Mais antiga do que a roda, a homossexualidade é tão legítima e inevitável quanto a heterossexualidade. Reprimi-la é ato de violência que deve ser punido de forma exemplar, como alguns países fazem com o racismo.
Os que se sentem ultrajados pela presença de homossexuais na vizinhança, que procurem dentro das próprias inclinações sexuais as razões para justificar o ultraje. Ao contrário dos conturbados e inseguros, mulheres e homens em paz com a sexualidade pessoal costumam aceitar a alheia com respeito e naturalidade.

Negar a pessoas do mesmo sexo permissão para viverem em uniões estáveis com os mesmos direitos das uniões heterossexuais é uma imposição abusiva que vai contra os princípios mais elementares de justiça social.

Os pastores de almas que se opõem ao casamento entre homossexuais têm o direito de recomendar a seus rebanhos que não o façam, mas não podem ser fascistas a ponto de pretender impor sua vontade aos que não pensam como eles.

Afinal, caro leitor, a menos que seus dias sejam atormentados por fantasias sexuais inconfessáveis, que diferença faz se a colega de escritório é apaixonada por uma mulher? Se o vizinho dorme com outro homem? Se, ao morrer, o apartamento dele será herdado por um sobrinho ou pelo companheiro com quem viveu trinta anos?

3 de maio de 2012

Rio recebe exposição fotográfica itinerante “Mães pela Igualdade”




Por All Out
Enviado por Mônica Cavalcanti

Nos últimos meses, mães de todo o Brasil vêm unindo forças contra a discriminação, a violência e a homofobia crescentes no país. Um dos resultados desta união é a exposição fotográfica itinerante “Mães pela Igualdade”, que será inaugurada ao público nesta quarta (3 de maio), na Praça XV, a partir de 10:00h. Durante todo o mês as fotos passarão por outras zonas da cidade. 

A exposição retrata a dor e a alegria de 22 mulheres que têm ou tiveram filhos vítimas de preconceito e exclusão. As fotos expressam as histórias de amor e luta dessas mães pela igualdade e respeito. A responsável pela organização do grupo Mães pela Igualdade e pela mostra é All Out - movimento global pela luta de direitos de lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transsexuais - em parceria com a Ceds (Coordenadoria da Diversidade Sexual da Prefeitura do Rio de Janeiro).

“O Brasil precisa das Mães da Igualdade. Elas nos mostram o poder da compaixão humana. Suas trajetórias de vida nos mostram que o amor incondicional é uma das coisas mais importantes", diz Andre Banks, Diretor Executivo da AllOut. “Estamos orgulhosos de ver essas mulheres no centro de uma das cidades mais importantes do país e no mundo. As Mães da Igualdade são uma inspiração e esperamos espalhar o exemplo do Brasil para todas as regiões do mundo. A igualdade é um valor da família"

A All Out preparou ainda uma "Árvore da Igualdade", uma escultura onde as pessoas poderão colocar as suas mensagens de apoio e respeito a gays, lésbicas, bissexuais e trans no Brasil. Por meio de uma campanha mundial (www.allout.org/pt/maespelaigualdade), a All Out conectará os membros em todo o mundo e também no Brasil por meio do envio destas mensagens, que irão ser postadas nas folhas nesta árvore, fazendo-a florescer recados durante o mês dedicado às mães e ao combate contra a homofobia. Ao término da exposição, a Árvore segue pra Brasília, diretamente para a presidente Dilma Rousseff.

A All Out é uma aliança entre héteros, gays, bissexuais, gays, lésbicas, travestis e transgêneros em todo o mundo. Estamos construindo junto um movimento global para permitir que as pessoas que amamos vivam livremente e que amem a quem desejarem. E Mães pela Igualdade faz parte deste universo. 

Participe clicando em www.allout.org/pt/maespelaigualdade 

SERVIÇO 

Exposição fotográfica “Mães pela Igualdade”
Local: Itinerante e ao ar livre, conforme abaixo. 
Horário: sempre de 10 às 18h 
Entrada: gratuita 

1ª semana : 03/05 ao dia 08/05
Praça XV (ao lado do Paço Imperial – Av. 1º de março, Centro) 

2ª semana : 09/05 ao 15/05
Praça Antero de Quental, Leblon

3ª semana : 16/05 a 22/05
Praça Saens Peña, Tijuca 

4ª semana: 23 a 29/05
Vigário Geral Horário: 

2 de março de 2012

Casal gay pernambucano registra filha gerada in vitro

Publicado no Jornal do Comércio
Por Carlos Eduardo Santos

Há 15 anos, quando Mailton Alves Albuquerque, 35 anos, e Wilson Alves Albuquerque, 40, se apaixonaram e começaram uma relação homoafetiva que dura até hoje, não imaginavam provar do sentimento que vivem atualmente. Graças a uma resolução do Conselho Federal de Medicina (CFM), que atualiza as normas relativas à reprodução humana assistida, os empresários se tornaram o primeiro casal de homens do Brasil a ter um filho por meio de fertilização in vitro e registrado pela Justiça.

O fruto dessa união estável – que foi convertida em casamento civil pela Justiça pernambucana no dia 24 de agosto do ano passado – chama-se Maria Tereza e completou um mês de vida na última quarta-feira. Casados e agora com uma filha registrada com o nome dos dois pais, Mailton e Wilson dão um passo importante na consolidação das chamadas novas configurações familiares. ............ A primeira redação da resolução do CFM que trata da reprodução assistida no País, de 1992, diz que os usuários da técnica devem ser mulheres estando casadas ou em união estável. Já no novo texto, de janeiro do ano passado, não cita o sexo, mas “todas as pessoas capazes”. Diante disso, Mailton e Wilson realizaram o sonho de ter uma família completa e trouxeram a pequena Maria Tereza ao mundo.
Os dois cederam espermatozoides para serem fecundados em óvulos de um banco de doadoras. Como a resolução afirma que o útero de substituição deve ser de um parente de até segundo grau, a prima de um deles aceitou conceber a criança. Terminou sendo introduzido no útero dela um pré-embrião fecundado por material colhido de Mailton. Os pré-embriões fecundados por Wilson estão congelados. O casal pretende dar um irmão ou irmã a Maria Tereza no próximo ano.

“Nossas famílias sempre apoiaram nosso relacionamento. E quando contamos da nossa ideia, todas as mulheres da família se colocaram à disposição para ajudar a realizar nosso sonho: irmãs e primas. Mas terminou sendo uma prima minha. Agora, temos uma família completa”, contou, orgulhoso, Mailton.

Segundo ele, a ideia de ter um filho surgiu em 2010, após viajar ao Canadá para estudar e ficar na casa de um casal homoafetivo que tinha filhos. “Quando voltei, começamos a discutir o assunto e pensávamos em adotar uma criança. Mas um dia, assistindo a um programa de televisão, vi a notícia sobre a mudança na resolução do Conselho Federal de Medicina. Aí, decidimos fazer fertilização in vitro”, relembrou.
A fecundação e introdução no útero ocorreu em uma clínica de reprodução humana do Recife. O vínculo da criança com a prima que emprestou o útero terminou já na maternidade, quando os pais saíram da unidade de saúde com Maria Tereza nos braços. A mulher, que pediu para não ter o nome divulgado, tomou medicamentos para evitar a produção de leite materno.

Hoje, a pequena Maria Tereza – o nome é uma homenagem às mães de Wilson e Mailton – tem um quarto só para ela, com direito a nome na porta, e atenção completa dos dois pais. Para Wilson, a felicidade de ser pai é “inexplicável”. “A felicidade é tremenda. Nunca pensei que fosse sentir um amor tão grande. Ter uma família completa é lindo”, desabafou.

14 de fevereiro de 2012

Barton protesta contra preconceito com LGBTs no futebol

Apesar de bad boy, meia do Queens Park Rangers revela preocupação com colegas que não podem sair do armário temendo por suas carreiras


Nenhum dos mais de cinco mil jogadores de futebol profissional do Reino Unido é, abertamente, gay. O número espanta, mas não é exclusividade britânica. Em todo o mundo, a orientação sexual de um atleta é sempre um assunto complicado. Mas o apoiador do Queens Park Rangers, Joey Barton, que é hetero e acabou de ter uma filha, espera que isso mude em breve.

Em entrevista a um documentário sobre a sexualidade no esporte, que será exibido pelo canal britânico BBC3 no próximo dia 30 de janeiro, Barton confirma que existe, sim, uma alta dose de preconceito no meio do futebol em relação a jogadores gays.

"Certos técnicos vão, sim, ter atitudes discriminatórias. Há figuras arcaicas que pensam que se tiverem um jogador gay em seu elenco, terão problemas no vestiário" afirmou.

O jogador, que é conhecido pelo seu estilo bad boy, afirmou ainda que diversos colegas são homossexuais e já conversaram com ele sobre isso. No entanto, admitiram ter medo de assumirem a sua orientação em público, acreditando que a carreira deles poderia ser prejudicada.

"Quando conversaram comigo, pediram que eu não revelasse a identidade, deixando bem claro que eles sabem que teriam a carreira encerrada se todos soubessem que são gays" completou.

Protesto também na Alemanha
Na última semana, quem também tratou deste assunto foi o lateral Philip Lahm, do Bayern de Munique, da Alemanha. O jogador, que já havia declarado que "jogadores gays não deveriam sair do armário" no ano passado, negou que seja gay em uma autobiografia, mas destacou que acredita que o futebol ainda não está preparado para atletas abertamente homossexuais.

"O futebol é como uma arena de gladiadores. Pessoas que não têm que conviver com estádios lotados com 60 mil pessoas todo final de semana têm mais facilidade para assumirem que são homossexuais, mas com um jogador de futebol é complicado. Não acredito ainda que a sociedade está preparada para isso" afirmou.

Na Alemanha, assim como na Inglaterra, não há um jogador sequer que já tenha assumido ser homossexual.