29 de maio de 2011

Como se assumir lésbica perante os pais





Pois é, provavelmente está a chegar a hora de se assumir como lésbica perante os seus pais… E que fazer, e como o fazer? Tudo passa pela sua cabeça: Será que eles vão aceitar? - ou pelo contrário farão disto um cenário de terror na sua vida? A verdade é que a maioria dos pais não reage mal, mas tudo depende como se assume perante eles e do facto de os preparar para este momento.


Considere sempre o pior cenário

Se pensa que tudo pode correr bem, não se esqueça de pensar que tudo pode correr muito mal. Imagine sempre o pior cenário, e tenha sempre um segundo plano caso o pior cenário se torne real. Se vive com os seus pais, e eles reagirem mal à notícia, o ideal será pensar desde já num local alternativo para ficar - caso eles se passem e a coloquem fora de casa. Comece a imaginar como será a sua vida se os seus pais deixarem de a ajudar financeiramente: prepare sempre uma alternativa. Parece dramático demais? A verdade é que nada como imaginar o pior cenário, para que tudo que aconteça não seja uma surpresa negativa.

No caso de ser apenas, em parte, financeiramente independente ( como no caso de estar em início de carreira e ainda depender dos seus pais para lhe pagarem a renda de casa), espere que eles lhe possam negar essa ajuda financeira. Espere essa situação e prepare um plano alternativo, nem que seja ir viver para a casa de um amigo por uns tempos. 

Pergunte-se sempre: “Porque desejo que os meus pais sejam conhecedores acerca da minha orientação sexual?”. Descubra a resposta a esta questão. Se a resposta for: “Porque eles são importantes para mim e como tal é importante que eles saibam.”; se esta é a resposta, tudo bem; mas se pensa que os seus pais são homofóbicos e os vais fazer mudar de ideias com uma notícia destas, a verdade é que ainda os poderá tornar mais revoltados e por isso mais homofóbicos. Nunca lhes comunique uma notícia destas num ataque de fúria, ou num momento de desespero. O sentimento de desespero ou de raiva será o que mais vai sobressair, sendo o assunto verdadeiro passado para segundo plano, tornando-se ainda mais difícil de aceitar. O ideal será começar a preparar terreno: comece por contar a notícia a pessoas da sua família que sejam mais tolerantes, que a possam ajudar e que a apoiem na ocasião de falar com os seus pais, ou até mesmo para os ir preparando antes de si.


Escolha um bom momento

Um momento ideal para se assumir perante os seus pais é difícil de definir, mas tente que seja o mais propício possível como por exemplo: deverá escolher um momento em que saiba que os seus pais estão com tempo para a ouvir e que não vai ser interrompida. Esta ocasião pode ser difícil de surgir, mas se não se proporcionar naturalmente, proporcione-a você mesma. Nunca escolha momentos como aniversários, Natais ou outro tipo de celebração que pode tornar-se caótica. Deve sempre contar com o pior e isso também implica pensar na situação e no que pode afectar outras pessoas. 

Nunca tente dizer estas coisas através das novas tecnologias, como enviar um e-mail aos seus pais, ou mesmo telefonar-lhes para se assumir; pode parecer mais fácil mas na realidade não há nada como o cara-a-cara para dar uma notícia destas, evitando assim mal-entendidos.

Se tem uma relação actual, não traga essa pessoa para esta conversa: nem fisicamente nem circunstancialmente; vá preparando os seus pais, e não espere que eles absorvam tanta informação de uma só vez. No caso de eles conhecerem a sua companheira e gostarem muito dela, isso será uma vantagem, mas essa é uma vantagem que deve ser usada mais tarde e não no momento em que se assume.


Seja calma e pense antes de falar

Nada como planear o que se vai dizer numa situação destas. Parece que o improviso pode parecer mais natural, mas na realidade o improviso pode dar origem a exaltações mais rapidamente, que as respostas planeadas. Deve sempre planear a conversa ao detalhe e até mesmo praticá-la com um amigo. Também deve sempre perguntar a outros que passaram pela mesma situação como é que o fizeram, porque basear-se em experiências de outros dá sempre algum traquejo emocional para passarmos as nossas. 

Considere situações como: se os seus pais já a questionaram acerca de ser gay; isto pode ser uma boa linha de introdução para iniciar “a conversa” com eles; isto também demonstra que poderão ser mais tolerantes à notícia, dado que admitem que esta hipótese é uma hipótese possível.


Tenha paciência

Aceitarem ter-se assumido como lésbica é algo que pode levar mais, ou menos tempo; por isso esteja preparada para passar pela fase de aceitação dos seus pais. Poderá imaginar o tempo que demorará aos seus pais a habituaram-se a esta nova realidade, baseando-se em experiências passadas a que tenha assistido aos seus pais passarem, como situações de grande stressemocional; estas situações poderão funcionar como um indicador não só da reacção mas também do tempo de aceitação da nova notícia. 

Nunca se deve esquecer que os seus pais com o seu “sair do armário”experienciam como que uma “perda”, em que a filha que imaginavam que tinham, não corresponde exactamente à realidade. Os seus pais poderiam sonhar com um vida heterossexual de acordo com os seus padrões culturais, e estereótipos construídos ao longo da vida, por isso deve dar-lhes o espaço para se habituarem à perda e a aceitarem como a nova realidade. Mais tarde eles começarão a aceitar o facto de que a filha é lésbica e toda a realidade existente à volta dessa nova existência.


Prepare-se para ouvir

Esteja preparada para responder a questões feitas pelos seus pais. Esteja preparada para lhes explicar que ser lésbica não é algo que se escolhe, que não é um defeito, nem sequer culpa deles devido a algo que não tenham feito bem. Ser honesta com os seus pais é a única decisão que foi escolhida por si. Ah! Se os seus pais pertencem a uma religião que condena a homossexualidade, prepare-se previamente com argumentos religiosos que poderão contrariar os que eles apresentarem. 

Alguns pais poderão sugerir um internamento ou até uma cura para o que consideram ser um problema resolvível, ao que lhes pode afirmar que a ciência médica não considera a homossexualidade uma doença, nem física nem mental. 

Faça-os saber que é feliz dessa maneira e que eles devem de ser felizes consigo. Faça-os saber que existem outros membros da família que a apoiam e que se sentem confortáveis com a sua maneira de ser. A verdade é que a principal preocupação dos pais é com a discriminação e com o quanto a sociedade pode maltratar alguém homossexual; assegure-os que já se sabe defender, que a sociedade já está mais tolerante e que tudo vai correr bem.


Ajude-os a ter apoio

Certamente que os seus pais irão ficar emocionalmente abalados, especialmente se não faziam a mínima ideia da sua homossexualidade. Por isso considere arranjar alguém com quem eles possam conversar sobre o assunto, como um psicólogo ou até um médico de família. Depois de os seus pais sentirem que existem outros pais na mesma situação, certamente irão sentir-se mais compreendidos e menos desprotegidos.


Parabéns!

Parabéns, se já se assumiu! Agora é só dar aos seus pais o tempo e o espaço necessário para que eles aceitem a notícia. Aproveite esta ocasião para fazer algo de bom por si, comemore a sua atitude, encontre-se com amigos, faça uma celebração, vá a um bar gay. Parabéns

Feliz Dia dos Namorados



E viva o amor, antes de qualquer coisa!!

It Gets Better, Uma campanha que está fazendo muita falta no Brasil.
Espero que essa campanha chegue rápido por aqui, em combate ao bullying contra gays e o aumento das taxas de suicídio por homossexuais, a campanha me emociona muito e eu gostaria de compartilhar algumas mensagens e depoimentos com vocês.
Entre elas dos funcionários da Pixar e do Google e do presidente americano Barack Obama...


Não deixe que ninguém te diga que você é menos só porque você é gay.


Tem muita gente que se importa com você e quer você vivo.

Então, Aguente firme. As coisas Melhoram


Repita consigo mesmo que você é Normal. Porque você é!

E saiba que... por mais que as coisas pareçam difícies...


Você está ligado as todos que estão passanado a mesma coisa.

Você vai encontrar seu lugar e vai melhorar, Eu prometo.


Pense no futuro. Não pense nos problemas que você está enfrentando agora.


Pense na grandiosidade que a vida vai ter.

Encontre alguém em que possa confiar, te ajudar e te amar incodicionamente.

E se essa pessoa não te ajudar, deixe pra lá. Busque outra pessoa.


Saiba que em algum lugar você vai encontrar alguém que se sente como você

Ou parecido com você... e que quer você por perto... e que te abraçar...


Te dizer que tudo vai ficar bem. E que as coisas vão melhorar.

Se eu pudesse passar pela tela, te dar um abraço e dizer que tudo melhora, eu faria isso.

Eu te prometo que as coisas não só melhoram como ficam muito melhor do que você pode imaginar.

É tão lindo o que te espera pela frente.


As coisas vão melhorar.

22 de maio de 2011

E agora?

06/02 - 12:47hrs


Dicas ajudam você a superar seus próprios preconceitos e entender que seu filho precisa de você agora mais do que nunca
Vladimir Maluf



É verdade: nenhum pai sonha em ter um filho homossexual. Mas também é verdade que filho não veio ao mundo para realizar os sonhos dos pais. Portanto, aceitar e aprender a lidar com a situação é a melhor – e única – maneira de manter uma boa relação com ele. E o que muitos pais esquecem é que, com a descoberta da homossexualidade, a angústia do filho é gigantesca e avassaladora. E ele precisa de ajuda. 

Claudio Picazio, psicólogo especializado em sexologia, sabe que não é fácil, mas afirma que é preciso mudar a maneira de pensar. “Antes de ter um filho, o casal projeta uma história, imagina um destino para esse filho. E nunca se leva em conta que ele possa ser gay, mas pode”, diz o psicólogo. “Eles têm a fantasia de que se tiverem uma filha, ela será uma santa; se tiverem um filho, ele será o garanhão. E nem sempre é assim”. 

Os pais erraram?

Não. É comum os pais se perguntarem, logo quando descobrem a sexualidade do filho, “onde foi que eu errei?”. Um engano. “Os pais não determinam a sexualidade do filho. O que eles determinam é como seus filhos vão levar sua vida amorosa”, explica Claudio, que aconselha a instruir os filhos a terem bom caráter, seja lá com quem irão se relacionar. 

Só se usa a palavra opção quando há uma chance de escolha. E não é o caso. “Se eu gosto de quindim e brigadeiro, e só posso comprar um deles, eu tenho que fazer uma opção: escolher um doce. Se as alternativas são lasanha e dobradinha, para mim, que odeio dobradinha, não há opção. Pois eu só gosto de um dos pratos”, associa o psicólogo. 
“A pessoa não escolhe. E não há explicação para o desejo erótico”. E aquela teoria de que o certo é o homem se atrair por uma mulher, por uma questão de reprodução, é uma besteira. “Nenhum homem olha uma gostosa na rua e diz: ‘quero ter um filho com ela’, certo?”. 

Novos sonhos

Se seu sonho era que seu filho casasse com uma mulher e lhe desse netos, aceite, eles não serão realizados. E você não pode cobrar isso. “O pai terá que readaptar seus sonhos. E perceber que não importa com quem ele se relaciona. Deve amar seus filhos de qualquer jeito, independentemente se ele é heterossexual ou não”, defende Claudio. 

Claudio Picazio se recorda de uma atitude que ele considera perfeita, vinda de pais que têm um filho gay: “Em 25 anos de profissão, só vi um caso realmente saudável nessa situação: os pais perceberam que o filho era gay e vieram me procurar para livrar-se do preconceito que eles tinham”. 

Por isso, se for seu caso, procure enxergar as coisas de uma outra maneira. “São os pais que devem consolar o filho. E não ao contrário. Eles precisam dar suporte a esse filho que está vivendo a angústia de descobrir que é homossexual. E não esperar que os filhos lhe amparem. Essa obrigação é dos pais”, afirma. 

Vença seus preconceitos

Dizer que o filho gay é aquele que foi mimado pela mãe ou teve o pai ausente é outro erro. “Isso é uma bobagem. O que costuma acontecer é exatamente o oposto: Eles descobrem que o filho é gay. O pai, que não se identifica, se afasta. A mãe, para tentar compensar, superprotege. E daí surgiu esse mito”, esclarece Claudio.

Não tocar no assunto é outra postura comum. “Os homens, principalmente, não falam sobre o assunto. Não querem trazer à tona que o filho é homossexual. E isso é muito ruim para as relações familiares”, diz o psicólogo, que desmascara uma forma de fuga: “Não adianta dar a desculpa de que respeita a individualidade do filho e por isso não mexe no assunto. Isso é mentira. Encare a situação!”, aconselha. 

Ser homossexual não exige tratamento. Mas ser preconceituoso, sim. “É preciso tratar o preconceito. Os pais têm que segurar a barra do filho, por isso, para facilitar a aceitação, eu aconselho que eles procurem um terapeuta especializado em sexualidade”, indica.

Aconteceu comigo

Luciano prefere não revelar o nome para preservar o filho. Mas diz com toda certeza que não tem problema nenhum com isso. “Meu medo é que meu filho sofra na rua, com a violência que existe por aí, inclusive contra homossexuais”, conta ele, que tem 53 anos. “Se eu disser que fiquei feliz quando soube, estaria mentindo. Não era o que eu queria para o meu filho. Minha primeira providência foi conversar com a mãe dele, que já sabia”. Foi difícil, ainda mais porque já eram separados. 

Mas ela tinha a cabeça muito mais aberta do que a minha na época e me fez enxergar que meu filho não deixou de ser a mesma pessoa que eu tanto amo e nada ia mudar”, conta ele. “Já conheci um namorado dele e foi estranho. Mas é lógico que eles me respeitam e não fazem nada na minha frente. Mas, se você parar para pensar, seria estranho do mesmo jeito se eu visse a minha filha, que é heterossexual, se agarrando com um rapaz na minha frente”.

Julio* não teve a mesma sorte com seu pai, que pediu a ele que saísse de casa. “Meu pai falou aquela velha frase que todo ignorante fala: que prefere filho morto a filho gay. Tenho 27 anos, sou independente e ajudo meus pais financeiramente. Claro que seu eu me formei foi graças a eles. Eu reconheço isso. Mas se eles precisarem um dia morar comigo, não vou abrir as portas”, diz. 

“Foram eles que me expulsaram, pois não queriam conviver com um gay, não é?. Então, se um dia precisarem, terão que assumir a consequência da postura que tiveram no passado. Não dá para aceitar que eles passem a fingir que me aceitam só para ter o que precisam”.

* O nome foi alterado a pedido do entrevistado

21 de maio de 2011

Entenda a Pl 122/2006

Nos últimos 30 anos, o Movimento LGBT Brasileiro vem concentrando esforços para promover a cidadania, combater a discriminação e estimular a construção de uma sociedade mais justa e igualitária.
A partir de pesquisas que revelaram dados alarmantes da homofobia no Brasil, a Associação Brasileira de Gays, Lésbicas, Bissexuais, Travestis e Transexuais (ABGLT), juntamente com mais de 200 organizações afiliadas, espalhadas por todo o país, desenvolveram o Projeto de Lei 5003/2001, que mais tarde veio se tornar o Projeto de Lei da Câmara (PLC) 122/2006, que propõe a criminalização da homofobia.
O projeto torna crime a discriminação por orientação sexual e identidade de gênero - equiparando esta situação à discriminação de raça, cor, etnia, religião, procedência nacional, sexo e gênero, ficando o autor do crime sujeito a pena, reclusão e multa.
Aprovado no Congresso Nacional, o PLC alterará a Lei nº 7.716, de 5 de janeiro de 1989, caracterizando crime a discriminação ou preconceito de gênero, sexo, orientação sexual e identidade de gênero. Isto quer dizer que todo cidadão ou cidadã que sofrer discriminação por causa de sua orientação sexual e identidade de gênero poderá prestar queixa formal na delegacia. Esta queixa levará à abertura de processo judicial. Caso seja provada a veracidade da acusação, o réu estará sujeito às penas definidas em lei.
O texto do Projeto de Lei PLC 122/2006 aborda as mais variadas manifestações que podem constituir homofobia; para cada modo de discriminação há uma pena específica, que atinge no máximo 5 anos de reclusão. Para os casos de discriminação no interior de estabelecimentos comerciais, os proprietários estão sujeitos à reclusão e suspensão do funcionamento do local em um período de até três meses. Também será considerado crime proibir a livre expressão e manifestação de afetividade de cidadãos homossexuais, bissexuais, travestis e transexuais.    
Apesar dos intensos esforços e conquistas do Movimento LGBT Brasileiro em relação ao PLC 122, ainda assim, ele precisa ser votado no Senado Federal. O projeto enfrenta oposição de setores conservadores no Senado e de segmentos de fundamentalistas religiosos. Por este motivo, junte-se a nós e participe da campanha virtual para divulgar e pressionar os senadores pela aprovação do projeto.




Por quê a lei?
  • Ainda não há proteção específica na legislação federal contra a discriminação por orientação sexual e identidade de gênero;
  • Por não haver essa proteção, estimados 10% da população brasileira (18 milhões de pessoas) continuam a sofrer discriminação (assassinatos, violência física, agressão verbal, discriminação na seleção para emprego e no próprio local de trabalho, escola, entre outras), e os agressores continuam impunes;
  • Por estarmos todos nós, seres humanos, inseridos numa dinâmica social em que existem laços afetivos, de parentesco, profissionais e outros, essa discriminação extrapola suas vítimas diretas, agredindo também seus familiares, entes queridos, colegas de trabalho e, no limite, a sociedade como um todo;
  • O projeto está em consonância com a Declaração Universal dos Direitos Humanos, da qual o Brasil é signatário: “Artigo 7°: Todos são iguais perante a lei e, sem distinção, têm direito a igual proteção da lei. Todos têm direito a proteção igual contra qualquer discriminação que viole a presente Declaração e contra qualquer incitamento a tal discriminação”;
  • O projeto permite a concretização dos preceitos da Constituição Federal: “Art. 3ºConstituem objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil: IV - promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação [...] / Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza”;
  • O projeto não limita ou atenta contra a liberdade de expressão, de opinião, de credo ou de pensamento. Ao contrário, contribui para garanti-las a todos, evitando que parte significativa da população, hoje discriminada, seja agredida ou preterida exatamente por fazer uso de tais liberdades em consonância com sua orientação sexual e identidade de gênero;
  • Por motivos idênticos ou semelhantes aos aqui esclarecidos, muitos países no mundo, inclusive a União Européia, já reconheceram a necessidade de adotar legislação dessa natureza;
  • A aprovação do Projeto de Lei contribuirá para colocar o Brasil na vanguarda da América Latina, assim como o Caribe, como um país que preza pela plenitude dos direitos de todos seus cidadãos, rumo a uma sociedade que respeite a diversidade e promova a paz.
Fonte: Projeto Aliadas – ABGLT


Verdades e Mentiras sobre o PLC 122/06
Desde que começou a ser debatido no Senado, o projeto de lei da Câmara 122/2006, que define os crimes resultantes de preconceito de raça, cor, etnia, religião, procedência nacional, gênero, sexo, orientação sexual e identidade de gênero tem sido alvo de pesadas críticas de alguns setores religiosos fundamentalistas (notadamente católicos e evangélicos).

Essas críticas, em sua maioria, não têm base laica ou objetiva. São fruto de uma tentativa equivocada de transpor para a esfera secular e para o espaço público argumentos religiosos, principalmente bíblicos. Não discutem o mérito do projeto, sua adequação ou não do ponto de vista dos direitos humanos ou do ordenamento legal. Apenas repisam preconceitos com base em errôneas interpretações religiosas.

Contudo, algumas críticas tentam desqualificar o projeto alegando inconsistências técnicas, jurídicas e até sua inconstitucionalidade. São críticas inconsistentes, mas, pelo menos, fundamentadas pelo aspecto jurídico. Por respeito a esses argumentos laicos, refutamos, abaixo, as principais objeções colocadas:


1. É verdade que o PLC 122/2006 restringe a liberdade de expressão?

Não, é mentira. O projeto de lei apenas pune condutas e discursos preconceituosos. É o que já acontece hoje no caso do racismo, por exemplo. Se substituirmos a expressão cidadão homossexual por negro ou judeu no projeto, veremos que não há nada de diferente do que já é hoje praticado.

É preciso considerar também que a liberdade de expressão não é absoluta ou ilimitada - ou seja, ela não pode servir de escudo para abrigar crimes, difamação, propaganda odiosa, ataques à honra ou outras condutas ilícitas. Esse entendimento é da melhor tradição constitucionalista e também do Supremo Tribunal Federal.

2. É verdade que o PLC 122/2006 ataca a liberdade religiosa?

Não, é mentira. O projeto de lei não interfere na liberdade de culto ou de pregação religiosa. O que o projeto visa coibir são manifestações notadamente discriminatórias, ofensivas ou de desprezo. Particularmente as que incitem a violência contra lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais.

Ser homossexual não é crime. E não é distúrbio nem doença, segundo a OMS (Organização Mundial da Saúde). Portanto, religiões podem manifestar livremente juízos de valor teológicos (como considerar a homossexualidade "pecado"). Mas não podem propagar inverdades científicas, fortalecendo estigmas contra segmentos da população.

Nenhuma pessoa ou instituição está acima da Constituição e do ordenamento legal do Brasil, que veda qualquer tipo de discriminação.

Concessões públicas (como rádios ou TV's), manifestações públicas ou outros meios não podem ser usados para incitar ódio ou divulgar manifestações discriminatórias – seja contra mulheres, negros, índios, pessoas com deficiência ou homossexuais. A liberdade de culto não pode servir de escudo para ataques a honra ou a dignidade de qualquer pessoa ou grupo social.

3. É verdade que os termos orientação sexual e identidade de gênero são imprecisos e não definidos no PLC 122, e, portanto, o projeto é tecnicamente inconsistente?

Não, é mentira. Orientação sexual e identidade de gênero são termos consolidados cientificamente, em várias áreas do saber humano, principalmente psicologia, sociologia, estudos culturais, entre outras. Ademais, a legislação penal está repleta de exemplos de definições que não são detalhadas no corpo da lei.

Cabe ao juiz, a cada caso concreto, interpretar se houve ou não preconceito em virtude dos termos descritos na lei.

Fonte: Projeto Aliadas/ABGLT

15 de maio de 2011

Bissexualidade é tema do "Sexo, Coisas e Tal"

Curta brasileiro é premiado em festival de cinema gay na Itália

Visto no Mix Brasil
O curta-metragem Eu Não Quero Voltar Sozinho, de Daniel Ribeiro – mesmo diretor do mundialmente premiado Café com Leite - recebeu dois dos mais importantes prêmios do 26º Torino GLBT Film Festival: o de melhor curta-metragem pela votação do público e o de menção honrosa do júri. O troféu de melhor longa-metragem foi para o filme francês de temática lésbica Tomboy. O festival, realizado anualmente na cidade de Turim, na Itália, é o mais importante da Europa neste segmento.

Em Eu Não Quero Voltar Sozinho, o diretor Daniel Ribeiro aborda, de maneira sensível e criativa, a inocência da descoberta do amor entre dois adolescentes gays – Leonardo (Guilherme Lobo), um deficiente visual que muda de vida com a chegada de Gabriel (Fabio Audi), um novo aluno em sua escola. Além do sentimento despertado pelo novo amigo, Leo precisa lidar com o ciúme da amiga Giovana (Tess Amorim).




11 de maio de 2011

Vida de Armário

De todas as consequências da vida no armário, nada é tão devastador quanto a necessidade de mentir. Fingir ser o que não se é, aprender a educar gestos e olhares, mentir para amigos, criar histórias, esconder sentimentos, anseios e dúvidas. Vestir sempre, a cada dia, uma máscara de algo que não se é e nem se sente.

Para alguns a vida no armário é a única alternativa de sobrevivência. Sabem, no mais íntimo, que quebrar aquela porta, significa romper com todos as amarras que o deixam seguro: serão excluídos da família, perderão emprego, amigos. E então eles aprendem a fingir. Aprendem a rir das piadas homofóbicas, a esconder os olhares de interesse, negar a atração por aquele amigo da sua irmã, conter-se, mesmo bêbado, para não "dar pinta". Aprendem a ter sempre uma história de reserva, para justificar sua presença naquele lugar de pegação. Aprendem a virar o rosto na rua, ao encontrar aquela transa da última noite. Se lembram de não estar tão perto dos outros para que ninguém perceba a verdade.

Mentem tanto e tão frequentemente que um dia se percebem presas daquela história que criaram. Automatizam gestos, risos, olhares e toques. Vivem num estado permanente de tensão. E não conseguem estabelecer vínculos duradouros nem de amizade nem de amor, por que onde nasce a mentira não se cria laços. Eles podem até amar, mas sempre fica a dúvida se são amados pelo que são ou pelo que dizem ser.

Não é fácil sair do armário. Nem é um movimento que se possa fazer pelo outro. E não acontece de uma hora para outra, apenas pelo desejo. Atitudes internalizadas, anos de negação, o medo da reação das pessoas e as próprias inseguranças não desaparecem só por que se disse "sou gay". Não se dorme no armário, agindo como hétero e fingindo 24h por dia e se acorda sem medo de andar de mãos dadas ou beijar em público. As armaduras usadas não vão desaparecer como mágica. 

Eu não acredito que existam fórmulas. E não acho que alguém tenha o direito de dizer quando, como ou para quem você precisa dizer que é gay. O que eu sei é que o armário tem consequências devastadoras. Ninguém consegue ser feliz de VERDADE, vivendo uma MENTIRA eterna. As consequências dessa escolha, só você pode decidir se está disposto a pagar.


"A vida no armário destrói a pessoa. Você aprende a mentir como uma segunda natureza. O seu primeiro movimento é mentir. Para você, para sua família, para os amigos, para o chefe no trabalho, para a namorada. E uma hora você mentiu tanto, que já nem sabe onde está a verdade. Você já não pensa para tomar algumas atitudes, mas elas estão tão internalizadas que você faz sem perceber. E se magoa e magoa aos outros. Num ciclo sem fim de dor"

Lilah Bianchi, carioca, 43 anos, atualmente perdida na Bolívia. Mãe do Lipe, do Victor, do Lucas e do Saulo. Professora Universitária e escritora amadora. Que viu o mundo tomar uma virada quando ouviu um deles dizer: Mãe, sou Gay!

Deputado Neandertal Bolsonaro

Casais homossexuais oficializam união estável em cartórios de Curitiba


Toni Reis e David Harrad estabeleceram oficialmente a união homoafetiva na tarde desta segunda-feira (9), no 6º Tabelionato de Curitiba. Eles estão entre os primeiros casais gays a formalizar o relacionamento  no Brasil.  Do cartório, eles foram para a 2ª Vara da Criança e Juventude da capital protocolar a intenção de adotar duas crianças.
A medida foi possível porque o Supremo Tribunal Federal (STF) reconheceu na quinta-feira (5) que o relacionamento estável entre pessoas do mesmo sexo constitui entidade familiar.

Desta forma, homossexuais podem ter os mesmos direitos, assegurados por lei, das uniões estáveis entre homem e mulher  como divisão da guarda e sustento dos filhos, possibilidade de pensão alimentícia,  herança em caso de morte, partilha de bens em caso do fim da união e facilidades para conversão da união estável em casamento.
A diferença entre a Declaração de Relação Homoafetiva - que já estava sendo adotada por diversos casais no país - e a União Homoafetiva é que com a determinação do STF adquirem-se direitos. “É questão de formalidade”, acrescentou o tabelião.

Toni Reis, que é presidente da Associação Brasileira de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais (ABLGT), afirmou que procurou outros cartórios, mas as unidades se recusaram. “Infelizmente entramos em contato com vários cartórios que colocaram empecilhos”, disse Reis.
Na avaliação de Elton Jorge Taga, tabelião substituto que realizou o processo para oficializar a união entre Reis e Harrad, este reconhecimento era um anseio da sociedade.
“Nós ganhamos e ninguém perdeu”, disse Toni Reis, que também agradeceu o STF e disse que se sente mais curitibano, mais paranaense e mais brasileiro. “Esse país pode ter dificuldades, mas tem justiça”, acrescentou.
O ex-presidente do Brasil Luiz Inácio Lula da Silva ligou para Toni Reis para parabenizar o casal  e desejar felicidades. "Foi o parabéns mais emocionante que recebi em toda minha vida. Este é o cara ", disse Reis.
Também nesta segunda-feira, a professora Daiana Bruneto e a corretora de seguros Leo Ribas oficializaram a união de cinco anos. Sem este direito, disse a professora, a cidadania não é completa. “É como se não fôssemos humanos.”
Daiana e Léo aderiram à declaração compartilhada do Imposto de Renda. Na ocasião, elas contaram ao G1 que a medida administrativa da Receita Federal era importante porque, segundo elas, é essencial ter a opção.
Léo Ribas disse que, apesar de elas terem feito a declaração da união em cartório, a decisão do STF é importante para os homossexuais porque os afirma enquanto sujeitos.
Goiás
Em Goiânia, outro casal realizou o desejo de oficializar a relação. O jornalista Leo Mendes e o estudante Odílio Torres assinaram uma escritura pública atestando a união estável, nesta segunda-feira, no cartório do centro de Goiânia. O documento é o primeiro registro de união civil de Goiás entre pessoas do mesmo sexo depois que o STF reconheceu a união entre homossexuais como entidade familiar.
Na prática,  o casal, que vivia junto havia um ano, passa a ter direito como incluir o companheiro num plano de saúde ou direito a continuar morando no lar em caso de morte do companheiro. Mas, para Leo e Odílio uma frustração: Um não pôde usar o sobrenome do outro, como acontece no casamento civil entre homem e mulher. Para isso o casal tem que requerer na Justiça.


9 de maio de 2011

Vida de Travesti

Autor: Ivan Moraes Filho

Dentre as muitas participantes se apresentaram ao repórter três pessoas: Nena, Flávia e Gleiciane. Se o leitor me acompanha, fará algumas descobertas. A primeira delas é que  na luta pela sobrevivência dos travestis há sinais que não notamos. Por exemplo, agitar a cabeça, jogando os cabelos longos sobre os ombros. Nas mulheres de origem biológica e definição, isso pode ser instinto de fêmea para seduzir, pura armadilha da feminilidade. Em travestis, não. É uma afronta dirigida à concorrente ou à intrusa. Marcação de terreno. “Desapareça! O que você quer?!”, gritam em silêncio com o jogar de cabelos nos ombros.
A segunda descoberta é que seus nomes não são simples nomes de guerra. Os nomes são as suas pessoas. Mais, o que não podíamos sequer adivinhar: o sexo macho de nascimento, para elas, é larva. Porque a sua plenitude é ser mulher. Daí que prefiram, exijam ser chamadas sempre com todos os substantivos e adjetivos no feminino. São as travestis. As meninas. As senhoras, damas, princesas ou senhoritas. Sem a menor sombra de ridículo ou ironia. Nasceram assim e são assim, um conflito vivo.
Nena Patrícia é uma jovem morena, com a pele a rebentar como uma adolescente. Tem 29 anos e aparenta ter menos. Daí que se pode acreditar na idade que declara. Alimenta, como todas, o sonho de encontrar um marido, de preferência carinhoso, trabalhador, fiel. Já Gleiciane é desconfiada e esquiva como poucas. Tem 38 anos, a pele clara, e conta que vai fazer o vestibular de gastronomia.
- Qual o divisor, qual o limite, de deixar de ser homossexual para ser travesti?
- Isso aí é uma questão de cabeça. Desde criança eu me identificava como mulher. A homossexualidade é diferente. Travesti é aquela que se veste 24 horas, que se caracteriza como mulher, que tem corpo de mulher, toma hormônio.
Flávia, a terceira a ser ouvida, aparenta ser a mais madura. Peço-lhe que se apresente, e cometo a indelicadeza de lhe perguntar a idade.
-  Sou Flávia Desirée… 38 anos.
- Desirée… Por que esse Desirée?
- É porque é um sobrenome francês, cheio assim de significação… é um sobrenome mais forte.
- Você fez transformações no seu corpo?
- Sim, fiz. Fiz transformação injetável. Eu passei do hormônio para o silicone. Eu tenho o rosto siliconado, tenho os seios siliconados, tenho os quadris siliconados. Toda feita com silicone.
Das três, Flávia Desirée é a que possui mais experiência. Ao lhe perguntar se já sofreu violência, ela me devolve:
- Qual delas? Porque eu já fui sequestrada, já fui atirada (empurrada do alto), já me levaram pra mata, pro Lixão da Muribeca, para uma praia deserta, onde me fizeram tirar a roupa… e tudo isso tanto dos marginais quanto da polícia. Em várias cidades. Rio, São Paulo, Vitória…
- Em qual delas a barra é mais pesada para a travesti?
- Rio de Janeiro e São Paulo. É pior do que o Recife. Rio e São Paulo é mais problemático. Eu não sei se era por causa da época, década de 80, mas quando eu comecei a viajar, lá as coisas eram muito mais violentas. Em São Paulo muitas travestis se jogavam, se atiravam do viaduto, quando viam o carro da polícia. Muitas se escondiam, a polícia caçava com cachorro, dava choque elétrico.
Volto para Nena Patrícia. Das três é a que aparenta ser a mais frágil, ou a que procura se adequar a um ideal leve, de louça, a que um vento mais bravo poderia quebrar.
- Em um mundo ideal, você seria travesti?
- Seria. Se eu renascesse, voltaria a ser travesti. É como diz Caetano Veloso, “cada um sabe a dor e a delícia de ser o que é”.
- Mas você tem mais dor ou delícia de ser o que é?
- É…. (Silêncio) É uma delícia assim, porque eu sou o que sou, a minha pessoa, a minha expressão. Acho que é mais… é muita dor, mas também não poderia ser de outra forma, porque eu não saberia me reprimir. Seria mais frustrante viver reprimida, sem me expressar.
No que Flávia Desirée muito discorda.
- Eu mesma já disse à minha mãe: “quando um dia eu morrer, eu não quero reencarnar no corpo de uma travesti mais não. Porque eu não aguento mais”. É uma vida muito sofrida, porque todo o mundo apedreja.
Ao fim, Desirée pede que na foto sejam evitados os seus pés. Quando a olhamos bem, descobrimos a razão. Calçando sandálias de borracha, não ficaria bem uma Desirée mostrar os pés feridos e inchados na revista.

8 de maio de 2011

Sessão histórica do STF: União Homoafetiva é reconhecida por unanimidade!

Visto no G1
Por Débora Santos

O Supremo Tribunal Federal (STF) reconheceu, por unanimidade, nesta quinta-feira (5) a união estável entre casais do mesmo sexo como entidade familiar. Na prática, as regras que valem para relações estáveis entre homens e mulheres serão aplicadas aos casais gays. Com a mudança, o Supremo cria um precedente a ser seguido por todas as instituições da administração pública.

O presidente do Supremo, ministro Cezar Peluso, concluiu a votação pedindo ao Congresso Nacional que regulamente as consequência da decisão do STF por meio de uma lei.

De acordo com o Censo Demográfico 2010, o país tem mais de 60 mil casais homossexuais, que passam a ter assegurados direitos como herança, comunhão parcial de bens, pensão alimentícia e previdenciária, licença médica, inclusão do companheiro como dependente em planos de saúde, entre outros benefícios.

Em mais de dez horas de sessão, os ministros se revezaram na defesa do direito dos homossexuais à igualdade no tratamento dado pelo estado aos seus relacionamentos afetivos. O julgamento foi iniciado nesta quarta-feira (4) para analisar duas ações sobre o tema propostas pela Procuradoria-Geral da República e pelo governo do estado do Rio de Janeiro.

Em seu voto, o relator do caso, ministro Ayres Britto foi além dos pedidos feitos nas ações que pretendiam reconhecer a união estável homoafetiva. Baseada nesse voto, a decisão do Supremo sobre o reconhecimento da relação entre pessoas do mesmo sexo pode viabilizar inclusive o casamento civil entre gays, que é direito garantido a casais em união estável.

A diferença é que a união estável acontece sem formalidades, de forma natural, a partir da convivência do casal, e o casamento civil é um contrato jurídico formal estabelecido entre suas pessoas.

A lei, que estabelece normas para as uniões estáveis entre homens e mulheres, destaca entre os direitos e deveres do casal o respeito e a consideração mútuos, além da assistência moral e material recíproca.

A extensão dos efeitos da união estável aos casais gays, no entanto, não foi delimitada pelo tribunal. Durante o julgamento, o ministro Ricardo Lewandowski foi o único a fazer uma ressalva, ao afirmar que os direitos da união estável entre homem e mulher não devem ser os mesmos destinados aos homoafetivos. Um exemplo é o casamento civil.

“Entendo que uniões de pessoas do mesmo sexo, que se projetam no tempo e ostentam a marca da publicidade, devem ser reconhecidas pelo direito, pois dos fatos nasce o direito. Creio que se está diante de outra unidade familiar distinta das que caracterizam uniões estáveis heterossexuais”, disse Lewandowski.

"Esse julgamento marcará a vida deste país e imprimirá novos rumos à causa da homossexualidade. O julgamento de hoje representa um marco histórico na caminhada da comunidade homossexual. Eu diria um ponto de partida para outras conquistas", afirmou o ministro Celso de Mello.

Julgamento
No primeiro dia de sessão, nove advogados de entidades participaram do julgamento. Sete delas defenderam o reconhecimento da união estável entre gays e outras duas argumentaram contra a legitimação.

A sessão foi retomada, nesta quinta, com o voto do ministro Luiz Fux. Para ele, não há razões que permitam impedir a união entre pessoas do mesmo sexo. Ele argumentou que a união estável foi criada para reconhecer “famílias espontâneas”, independente da necessidade de aprovação por um juiz ou padre.

“Onde há sociedade há o direito. Se a sociedade evolui, o direito evolui. Os homoafetivos vieram aqui pleitear uma equiparação, que fossem reconhecidos à luz da comunhão que tem e acima de tudo porque querem erigir um projeto de vida. A Suprema Corte concederá aos homoafetivos mais que um projeto de vida, um projeto de felicidade”, afirmou Fux.

“Aqueles que fazem a opção pela união homoafetiva não podem ser desigualados da maioria. As escolhas pessoais livres e legítimas são plurais na sociedade e assim terão de ser entendidas como válidas. (...) O direito existe para a vida não é a vida que existe para o direito. Contra todas as formas de preconceitos há a Constituição Federal”, afirmou a ministra Cármen Lúcia.

Preconceito
O repúdio ao preconceito e os argumentos de direito à igualdade, do princípio da dignidade humana e da garantia de liberdade fizeram parte das falas de todos os ministros do STF.

“O reconhecimento hoje pelo tribunal desses direitos responde a grupo de pessoas que durante longo tempo foram humilhadas, cujos direitos foram ignorados, cuja dignidade foi ofendida, cuja identidade foi denegada e cuja liberdade foi oprimida. As sociedades se aperfeiçoam através de inúmeros mecanismos e um deles é a atuação do Poder Judiciário”, disse a ministra Ellen Gracie.

“Estamos aqui diante de uma situação de descompasso em que o Direito não foi capaz de acompanhar as profundas mudanças sociais. Essas uniões sempre existiram e sempre existirão. O que muda é a forma como as sociedades as enxergam e vão enxergar em cada parte do mundo. Houve uma significativa mudança de paradigmas nas últimas duas décadas”, ponderou Joaquim Barbosa.

O ministro Gilmar Mendes ponderou, no entanto, que não caberia, neste momento, delimitar os direitos que seriam consequências de reconhecer a união estável entre pessoas do mesmo sexo. “As escolhas aqui são de fato dramáticas, difíceis. Me limito a reconhecer a existência dessa união, sem me pronunciar sobre outros desdobramentos”, afirmou.

Para Mendes, não reconhecer o direitos dos casais homossexuais estimula a discriminação. “O limbo jurídico inequivocamente contribui para que haja um quadro de maior discriminação, talvez contribua até mesmo para as práticas violentas de que temos noticia. É dever do estado de proteção e é dever da Corte Constitucional dar essa proteção se, de alguma forma, ela não foi engendrada ou concedida pelo órgão competente”, ponderou.

Duas ações
O plenário do STF concedeu, nesta quinta, pedidos feitos em duas ações propostas pela Procuradoria-Geral da República (PGR) e pelo governo do estado do Rio de Janeiro.

A primeira, de caráter mais amplo, pediu o reconhecimento dos direitos civis de pessoas do mesmo sexo. Na segunda, o governo do Rio queria que o regime jurídico das uniões estáveis fosse aplicado aos casais homossexuais, para que servidores do governo estadual tivessem assegurados benefícios, como previdência e auxílio saúde.

O ministro Dias Toffoli não participou do julgamento das ações. Ele se declarou impedido de votar porque, quando era advogado-geral da União, se manifestou publicamente sobre o tema.